Wednesday, March 30, 2005

[DEPOIS DO PÃO DO DIABO, INDIGESTÃO]

Pendurada num pesadelo - acordara de sobressalto. Cabelo desgrenhado, as fivelas sapecavam os olhos e a sonolência fazia os movimentos longos. Preguiça de se livrar do flagelo. - Porque a dor era sua vida mais cheia de sinais.

Vivia remoendo o meio das coisas. Começos, fins desinteressantes, esses deixava para as novelas das oito. E vivia uma realidade estranha e palpável. Descascando os pés de cara pro espelho – Grandes mulheres.. só aquelas dos outdoors.

Saturday, March 26, 2005

AMA(DOR)

Um problema sem reversibilidade. Apertava os olhos forte forte para ver se a visão clareava depois do ato. Mas não adiantava. Não sabia até que ponto as cataratas o manteriam alienado do mundo. Dormindo acordado, dando passos em falso. De vez em quando, um risco nos planos pro arrisco arisco.
Nada a fazer com os buracos do peito, também embaçado. ‘Arte no ato de atar-se’. A vida era pra aventura – e sopetão depois de sonho, que fosse.

Wednesday, March 23, 2005

A evolução das coisas, o avanço dos passos, a corrida das lesmas em direção à sombra úmida me deixa abismado. Eu tentei abstrair meu contato. Mas é mais que caminhar sem minhas havaianas nos pés. Pus o pus pra fora espremendo meus pensamentos ao extremo. Porque finalmente desejei estar vazio. Para me encher novamente de qualquer outra coisa; apenas pelo fato de agora eu ter tantos anos a mais e uma percepção mais aguçada que a de outrora. Desejava viver uma alegria. Um sonho. Um peso que me controlasse a leveza. Dia, noite, dia após.

Sunday, March 20, 2005

[AQUELA MENINA BRANCA]

Pequenos sapatos pretos calçavam os pés daquela menina branca branca. De tão branca se confundia nos movimentos, com a luz dos refletores pelo chão da praça.

E naquela brancura franca, acendia um sorriso despreocupado, cheio de acidez de abacaxi gelado brotando da língua, fazendo cócegas no céu da boca.

Do lugar de onde vinha, vinham junto, cheiro de mato novo e muita poeira que o vento carregava com as folhas. Andou devagar até chegar naquele banco vazio e por vezes abria a boca no meio do vento empoeirado. – Queria disfarçar a acidez e despistar as cócegas na boca para cantar de frente pra ele, sem vacilar no verso, sem encher a atitude de pigarros, com o brilho na bola do olho, com a saliva na ponta da língua.

Thursday, March 17, 2005

[MESES]

Respeitava a palavra dentro da outra boca. Era o fôlego seu saindo, entrando, saindo. Mais fazia por saber de onde vinha tamanha voz e tamanha graça.. Rodava os sete sonhos antepassados e retroagia na contagem de próximas horas. É que outrora, o corpo presente era o céu na terra; criando raízes, e agora, nem um nem dois, mas sete motivos para continuar empurrando a saudade dias a fora, empurrando alegria, dias adentro.


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*são sete meses do contato mais sincero e íntimo com a alegria de ter sorrisos mágicos me cercando pelos lados.
Alex, eu te amo.

Teria que rodar mais uma vez – o disco velho arranhado. Blues, antigos blues cheios de mofo.

Contara escondido – uma novidade para o espelho estilhaçado.

Ela tinha que dar um jeito, oras – de costurar a calça esgarçada no meio das pernas. Precisava de novos argumentos – para convencer o dono da quitanda da necessidade de fiado no dia. E arrancar aqueles fios. Ah... Malditos fios grossos por lugares indesejados e tão belos. E tão brancos. Devia meter cera quente ali. Tomar providência para poder caminhar na praia despreocupada – sem chapéu. Caminhar sem chapéu na praia; chapéu já é tão cafona. Devia dar um jeito porque a repulsa dele fazia com que virasse os olhos e relutava em beijar-lhe os lábios cabeludos. Sim. Pêlos de 20 anos no buço.

Sunday, March 13, 2005

[OU É VOCÊ, OU O MUNDO É DOCE POR ACASO.]

Depois de ter movido meu mundo do meu quarto, tão cansada estava que dormi andando e babei falando dos planos. Por acaso o sol quente me causou lapsos de memória. E o chão quente calos no pé. Ando desligando as coincidências, entregando pontos. E por entre os pontos, pleitos; por entre os pleitos, pulos; por entre os pulos, panos; por entre os panos, peitos.

Pra você, um lugar no meu sonho.

Saturday, March 12, 2005

[DEPOIS DE MEIAS, SAPATOS; DEPOIS DE MEIAS, PALAVRAS]

A minha parcela de culpa, ali, era parcelada entre as cabeças pendendo pro lado da ignorância.

Umas negavam o cheiro estranho que vinha da casa do vizinho. Outras coçavam o couro cabeludo com a ponta das unhas compridas e falavam banalidades.

Se eu não soubesse onde me meter, não tinha ido embora há tempo. E há tempo não havia cessado minha vontade de ver as coisas do avesso. E há tempo eu teria desistido da minha loucura lúcida. Porque nem a lucidez é cíclica e eu nasci pra saber o doce, o salgado, o insípido, o amargo. E nasci há tempo, diga-se de passagem.