Tuesday, September 13, 2005

[POBRE QUERIDA]

Haveria na minha mente a esperança esparsa. Aquela que se liberta do corpo juntamente com os nervos pulsantes numa ameaça inesperada de obviedades. Marta me esperaria no corredor exausta. Eu, com meus botões falhando, tentaria uma frase menor para justificar meu atraso. Tive que engraxar os sapatos, fui comer um salmão, passei a limpo os relatórios.

A garrafa de coca-cola emprestada da quitanda escorregaria da mão dela, os pingos formando desenhos no chão seco e quente. Desapontaria Marta, como de praxe. O cansaço é o corpo dela me esperando para folgar sobre a sombra, amassando de qualquer jeito a farda de amanhã. Marta, exausta.

Minha mentira não caberia na tragédia do dia. Teria que atropelar as desculpas com um beijo sôfrego - dos que a deixam com os pés dormentes. Então atravessaria o corredor disperso. Sem passos charmosos e lentos. Sem olhadas religiosas pelos vidros das salas. Sem enxugadas de suor na testa. Para Marta avante. De longe a veria, exausta.

Nesse caso demoraria-me à mesa. Esperaria suas duas batidas à porta. Surpreenderia-me com seu rosto, porquê não, e no compromisso apressado da rotina pobre, calçaria os calcanhares dos sapatos para passar do vidro fumê para o sol de ladeira abaixo. Marta, exausta.

Na verdade planejo a dor diminuída. Pobre querida. O cansaço dela me consome vagaroso. Como as lentas palavras que me diz preocupada. E mais tantas, feliz. De que adianta meu desconsolo com o dia que deixarei Marta neste mundo, a lisura que quero nos últimos atos, se o rosto de Marta, apesar do amor acostumado, vai me abraçar suado, pesaroso, exausto?

Monday, September 05, 2005



Pra quando a saudade chegar;
pro caso de eu não estar;
pra como eu quiser deitar;
pra quando eu não levantar;
pro fato de haver azar;
pro acaso de haver dor;
pra enquanto o choro não cessar;
pro tempo de me repor;
pra vida não me enganar;
pro amor não me corroer;
pro medo me despedir;
pra dúvida me comer;
pra ânsia me assaltar;
pra eu não demorar morrer,
penso em você.
Só penso.