Thursday, February 16, 2006



amor é fogo

que arde sem se verde

arde amarelo.

(à alex camilo de melo)

Thursday, February 09, 2006

A reunião da família. Todos sóbrios e bem penteados com os respectivos copos de café nas mãos. – Sim, tomávamos café em copos de geléia. O quente do vidro nos curava os calos do violão. Éramos três, os irmãos. Seis com mãinha, vóinha, titia. Choramingávamos discretos, procurando não trocar muitas palavras. Tínhamos de ser solenes. O forro do sofá rasgado, o cachorro quieto, a samambaia torta. Tudo ali era reverente ao nosso pesar de meia semana.

Sabíamos – seria assim alguns dias mais. A dor viria como um reflexo; mesmo na manhã que nascesse direita; serenando, os panos no varal cheirando, os sapatos macios de inverno... A solidão do canto da copa, no entanto, ainda seria surpresa amarga e dura. Painho não ia tar lá, vendo sua tevê sem som, tomando café num copo de geléia e esfregando as mãos conforme o vento da ceteira viesse.

Não podíamos fazer tanta coisa. Muito vazio rondando O consenso foi um só: a bonita foto três por quatro que escolhêramos ficaria em cima do carro dos sonhos de pai: de propósito pra que aquele anúncio exagerado do jornal não ficasse naquele dia assim sem graça, assim ensosso como sempre fora.


Missa de Sétimo dia:Convidam filhos, esposa, mãe; em sufrágio da alma inesquecível de Manoel das Dores de Carvalho, aos 15 dias de novembro de mil novecentos e setenta e quatro.