Tuesday, April 03, 2007



Quando minha filha fizer dezoito anos, darei-lhe um scarpin preto dez centímetros, uma lista de recomendações de livros para se ler e reler ao longo do tempo, e sentaremos no sofá da sala para falar das evoluções na vida de um maior.

Vou lhe contar que todo maior tende a ser menor, já que perde a essencialidade da moral infantil e a simplicidade de viver a vida daquela fase. Lhe direi que as paixões de início vão ser rasas e as expectativas vão servir senão para medir a potencialidade das coisas. Avisarei que toda sorte de dores virão. Dores com e sem fundamento, com e sem medida, com e sem suporte. Vou ressaltar que ser cidadão é principalmente pensar com carinho na natureza. Ser mulher, é primeiramente ser delicada. E que não há cilclo que não se feche. Não há espera que não se acabe, não há começo que não se resolva.

E há coisas que não direi. Há coisas que deixarei o tempo incutir. Há pessoas nela, que vou querer conhecer enquanto eu chego aos quarenta. E há cuidados mútuos de que vou desfrutar bem quieta, às vezes inerte, às vezes conformada - já que a inevitalidade vai viver tão perto de nós; já que a casualidade da convivência vai ser a alegria e a novidade de todo dia meu.

*copyrights foto: Aline Muguet.