Essas manhãs venho vindo ver o mar, gostaria que a água me desligasse de minhas angústias com a mesma eficácia com que encharca o cabelo. - As espumas são um desenho muito bobo que desfaço com as mãos.
Quando a frieza da água me arranca do meu estado, fico lembrando de tempos antigos. Eu usava tranças e queria tanto um namorado. Li um bilhete - entre outras coisas - esses dias, tão velho. Eu dizia a você que queria um namorado. Fiquei pensando no tamanho pequeno da minha ambição. Eu queria um namorado. Hoje quero um sofá confortável. Uma casa numa rua bucólica. Quero remédios desses de humor. Quero inclusive gente que me cerque de novidade. Não é qualquer gente, sabe?
Tem a Sílvia na telefonia. Que me fala de muitos dilemas, eu fico confusa com esses papos. Tem o Franco que é moderninho demais. Você deve imaginar. Me chama por apelidos esdrúxulos. Provoca risinhos; um tipo vulgar. Tem também a Maria – que varre todo dia a minha calçada porque se compadece da minha falta de tempo para essas coisas. Maria me fala sinceramente da vida, mas aposto como ela tem medo de mim. Maria tem todo o medo do mundo. Sempre que ela me olha nos olhos, parece que se arma de todos os medos.
2 Comments:
tá, pode me deixar sem palavras, tudo bem...
Esse texto me lança para um fim de tarde com sol fraco e baixo, com donas de casas e suas cadeiras conversando na calçada da rua.
Muito gostoso.
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