Thursday, November 10, 2005



Sinto a sua falta.

Da completude que as coisas parecem ter quando estamos juntas. Pelo menos essa aparência, para gente como eu é um alívio.

Comprei discos antigos e danço sozinha na minha sala. Comprei vinhos chineses. E chinelos de números grandes. É a ilusão de todas as coisas o meu refúgio. Como a de pensar que um espírito me acompanha. Calça meus chinelos, ri das minhas caras. Vela pelo meu sono.

Lembro-me dos seus filhos e tenho saudade até deles. É que vejo que a sua vida se divide. Se fragmenta de um jeito que não te deixa menos completa. Se eu não achasse um abuso tal pedido, pediria que você me ensinasse a viver. Não uma vida chula dessa minha. Uma vida assim, da sua, hermética, lenta e profunda. Me canso da minha previsibilidade. Das coisas rarefeitas. Me canso de como eu fico estando sozinha.

Mas no fim de todas as coisas está a beleza desse lugar e o bemzinho que isso me faz. Eu respiro porque caminho na calçada olhando pra essas águas que estranhamente me acolhem.

Quando estou no mar, parece que sempre fui daqui. Você sabe como é?

Tenho vontade de ver-te logo, mas com esses tempos novamente resgatados. Sem essa curiosidade e recato que deve ter se construído com a distância. Sou a mesma pessoa, pelo menos tento. E por enquanto sou daqui. Estou no mar.

Para você um abraço sem medida e sem propósito. Como nos velhos tempos.


Alice

4 Comments:

Blogger Mythus said...

Nao sei porque, mas lembrei de "escrevo cartas para ninguém" :)

8:08 AM  
Anonymous Anonymous said...

hum..

também queria uma vida assim:
hermética, lenta e profunda.

também me canso da minha previsibilidade e das coisas rarefeitas..

sempre fico abalada com teus textos Li, um caso sério..

bjins pra você!

6:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

bonito isso, flor.
lembro muito de mim quando leio esses mais novos. os meus cadernos estão cheios dessa nostalgia.
saudade de você, de alex e da amizade que podia ser mais.
:)
love.

5:04 AM  
Anonymous Anonymous said...

Aracaju, 26 novembro 2005

Querida Alice,

Queria te falar de como descobri Caetano, que sempre me pareceu muito afeminado e fresco. Desses que cantam sem vontade, e o mundo diz que é arte. Descobri que ele foi algo de melhor no passado, e q rabiscava umas letras de melodia clara e branda. Meu respeito tardio pra ele.
As crianças tão bem. Agitadas. Inclusive as ainda não fabricadas. Se impacientam...
Continuo desorganizada, e colecionando vidas. Conheci um francês na praia que me escreveu o endereço num papel rasgado. Para uma eventual visita Européia. Prefiro achar que algumas vidas são mesmo feitas pra se esbarrarem.
Fui ao supermercado e comprei um batom de cor imcomum. Daquelas que nem me agradam. Comprei e guardei na bolsa. Deu vergonha. Mas usei e dirigi por algumas avenidas. Algúem deve ter notado ao sinal vermelho. Tomara...

Lembrei daquele dia em que destroçamos a galinha aí na tua casa lembra? Lembrei mesmo.
Nem te disse que ganhei cd daquela moça de voz rouca, que dormia ao ver na tv. Ganhei por ser trilha de amor conturbado. Amor rasgado, que nem a voz de Beth Gibbons.
Tem usado aquela água de colônia que te dei de natal?
Use pra lembrar de mim. Que meu cheiro já se foi.
Desculpe,querida, minha ausência de letras nos papéis do correio...
Aqui nestes trópicos falta tinta nas canetas.
(acredita, finge que meu absurdo faz sentido)

Um abraço que a panela tá no fogo, vai catar os amendoins e varrer os risos que ainda ecoam na sala.


Mariana

8:02 AM  

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