A reunião da família. Todos sóbrios e bem penteados com os respectivos copos de café nas mãos. – Sim, tomávamos café em copos de geléia. O quente do vidro nos curava os calos do violão. Éramos três, os irmãos. Seis com mãinha, vóinha, titia. Choramingávamos discretos, procurando não trocar muitas palavras. Tínhamos de ser solenes. O forro do sofá rasgado, o cachorro quieto, a samambaia torta. Tudo ali era reverente ao nosso pesar de meia semana.
Sabíamos – seria assim alguns dias mais. A dor viria como um reflexo; mesmo na manhã que nascesse direita; serenando, os panos no varal cheirando, os sapatos macios de inverno... A solidão do canto da copa, no entanto, ainda seria surpresa amarga e dura. Painho não ia tar lá, vendo sua tevê sem som, tomando café num copo de geléia e esfregando as mãos conforme o vento da ceteira viesse.
Não podíamos fazer tanta coisa. Muito vazio rondando O consenso foi um só: a bonita foto três por quatro que escolhêramos ficaria em cima do carro dos sonhos de pai: de propósito pra que aquele anúncio exagerado do jornal não ficasse naquele dia assim sem graça, assim ensosso como sempre fora.
Missa de Sétimo dia:Convidam filhos, esposa, mãe; em sufrágio da alma inesquecível de Manoel das Dores de Carvalho, aos 15 dias de novembro de mil novecentos e setenta e quatro.
3 Comments:
dizia o graciliano que o escritor deve dizer a verdade. não a grande verdade, mas aquelas pequenas do dia a dia.
eu me atrapalho todo dia de verdade com isso. você não.
até outro dia.
p.s. respondi seu "peito comentante" :) e fiquei todo prosa por tê-la viciado assim de mentirinha.
Nunca mais tinha vindo aqui, e não ia partir ser vir.. Que triste, hein? Me identifiquei com os calos, mas só quero me identificar com isso mesmo, nossa..
Ah, e tem show a caminho, qdo confimar, te aviso.. =]
Tocante.
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