Sabe, preciso de silêncio para organizar meus pensamentos. Isso explica a minha desorganização característica. A mania de carregar muitos livros e o descuido de tropeçar nos próprios pés. Tenho medo de não ser feminina, tenho desejo de ser volúvel. Femininas volúveis parecem ter o poder nas mãos. Nos pés; nas bundas, muitas vezes magras. Penso. Minha volubilidade ficou perdida num pedaço remoto da minha infância. Aprendi a ser prática, mesmo sem acreditar na eficiência de ser prático. As eficiências, afinal, não superavam as deficiências. Nem tampouco as anulavam por algum instante. Não lembro se desisti. Talvez cedi. Sempre fui muito tola e aprendi a não ter vergonha disso. Li livros de criança e gostei tanto d’Os Lusíadas que já quase fui uma portuguesa. Dessas incuráveis. Bregas, mornas, magras e politizadas. A flauta me envenenou com o tempo. Achava o que faltava para minha lucidez ter onde pousar. Me enganei. Como em muitas outras vezes. Fui corcunda a vida inteira e difícil de condicionar. E assim nunca me curei das letras. Da paixão por vinho suave. Da empatia com galinhas. E com bichos silenciosos. Tartarugas. Coelhos. Borboletas. Formigas-rainhas. Rainhas.
6 Comments:
vc é uma linda.
Texto denso e maravilhoso...
a gente muda, né verdade?
marília, filhota, vamos repetir a dose no boteco pérola. sem batatinhas em conserva, please. :P
ricardo.. visita boa..
:)
Um amigo me apresentou teu texto, sem qualquer recomendação a não ser a de ler esse post e os demais quando tivesse tempo...esqueci da pressa. Muito bom, muito bom mesmo!
maria, sinta-se em casa. adoro visitas. :)
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