Sunday, December 18, 2005

Ela era uma menina simples. De óculos com armação descascada, pernas depiladas meio a meio, cabeça ovalada (desses ovos que são redondos o tempo inteiro), por onde lhe escorriam os cabelos. Eram fios finos de criança nova, desses que o vento quase leva de tão soltos.

Naquele dia acordara arrependida. Triste de continuar naquele corpo. Caminhou pelo corredor riscando a parede com o dedo roído e abriu aquela porta pesada silenciosamente. A mãe dormia afundada na cama. A respiração dela, por cada três segundos, deixava o quarto abafado e as plantas murchas. Sentou-se sobre o tapete, onde uns negrinhos dançavam sem chão por sobre os pés. Deixou as mãos caírem no regaço. Aquela cabeça inocente e tão já sofrida matutava. Era terrível crescer e alcançar a quina da porta. E suportar o sangue entre as pernas. E usar um sutiã onde seus peitos não saberiam para onde ir. Mas a mãe dizia que sim. Que ela saberia todas as coisas. E as piores. E as piores.

Deitou-se no piso frio então, emergida no silêncio. Pôs um dedo no umbigo - um no Centro, outro no Sul. Não queria era o olho fundo da mãe; não queria. Nem os cabelos brancos. Nem as papas na língua. E de repente, no meio daquele vazio todo, houve um momento desses em que o mundo pára. E o líquido que escorreu-lhe dentre as pernas não era sangue. Era um nojo novo – maior.

Saturday, December 10, 2005

Tentei os carneiros; antes deles as pílulas. Há alguns dias tentei um chá. Ervas fedidas e relaxantes, sensações sufocantes tomando nervos decadentes. Então, o ventilador de teto. A cama macia, as cores leves nas fronhas. Mais o jejum. O esvaziamento na meditação. As pernas para cima. O sangue circulando.Os álcoois etílicos. Os cheiros exóticos. Tentei até a música clássica. Uns livros. A nudez. Tentei me cansar, me enfurnar, me enfurecer e nada: só durmo quando o sono vem, com você.