Sunday, November 27, 2005

Escrever é a maneira que eu tenho de não dizer o que eu tenho para, da boca pra fora.

Thursday, November 10, 2005



Sinto a sua falta.

Da completude que as coisas parecem ter quando estamos juntas. Pelo menos essa aparência, para gente como eu é um alívio.

Comprei discos antigos e danço sozinha na minha sala. Comprei vinhos chineses. E chinelos de números grandes. É a ilusão de todas as coisas o meu refúgio. Como a de pensar que um espírito me acompanha. Calça meus chinelos, ri das minhas caras. Vela pelo meu sono.

Lembro-me dos seus filhos e tenho saudade até deles. É que vejo que a sua vida se divide. Se fragmenta de um jeito que não te deixa menos completa. Se eu não achasse um abuso tal pedido, pediria que você me ensinasse a viver. Não uma vida chula dessa minha. Uma vida assim, da sua, hermética, lenta e profunda. Me canso da minha previsibilidade. Das coisas rarefeitas. Me canso de como eu fico estando sozinha.

Mas no fim de todas as coisas está a beleza desse lugar e o bemzinho que isso me faz. Eu respiro porque caminho na calçada olhando pra essas águas que estranhamente me acolhem.

Quando estou no mar, parece que sempre fui daqui. Você sabe como é?

Tenho vontade de ver-te logo, mas com esses tempos novamente resgatados. Sem essa curiosidade e recato que deve ter se construído com a distância. Sou a mesma pessoa, pelo menos tento. E por enquanto sou daqui. Estou no mar.

Para você um abraço sem medida e sem propósito. Como nos velhos tempos.


Alice

Sunday, November 06, 2005





Essas manhãs venho vindo ver o mar, gostaria que a água me desligasse de minhas angústias com a mesma eficácia com que encharca o cabelo. - As espumas são um desenho muito bobo que desfaço com as mãos.

Quando a frieza da água me arranca do meu estado, fico lembrando de tempos antigos. Eu usava tranças e queria tanto um namorado. Li um bilhete - entre outras coisas - esses dias, tão velho. Eu dizia a você que queria um namorado. Fiquei pensando no tamanho pequeno da minha ambição. Eu queria um namorado. Hoje quero um sofá confortável. Uma casa numa rua bucólica. Quero remédios desses de humor. Quero inclusive gente que me cerque de novidade. Não é qualquer gente, sabe?

Tem a Sílvia na telefonia. Que me fala de muitos dilemas, eu fico confusa com esses papos. Tem o Franco que é moderninho demais. Você deve imaginar. Me chama por apelidos esdrúxulos. Provoca risinhos; um tipo vulgar. Tem também a Maria – que varre todo dia a minha calçada porque se compadece da minha falta de tempo para essas coisas. Maria me fala sinceramente da vida, mas aposto como ela tem medo de mim. Maria tem todo o medo do mundo. Sempre que ela me olha nos olhos, parece que se arma de todos os medos.