Wednesday, May 21, 2008


A moça da foto se chama Flávia Evangelista. Moradora do Leme, frequentadora da Lapa, diretora de arte de vários curtas que estão rolando, em quem provavelmente ainda vai se ouvir muito falar. Pessoa incrível. Uma vez sonhei com ela declamando um poema, num vestido de bolinhas, num teatro antigo e enorme do Rio. Na época, estava fazendo exercícios para ter sonhos lúcidos, já que tenho muitas idéias sonhando. Consegui acordar no meio do sonho e transcrever o poema. Que era assim:


Preciso largar essa coisa de cigarro
preciso largar essa coisa de trabalho.
O corpo fraco,
o dia escasso.
O fio do dia casto.

Seja poesia,
seja ela o que for,
busco o horror das coisas ditas alegremente;
o escuro intenso da minha alma clemente
quer mais um dia
da mais lúcida dor.

Essa arte me mata amiúde
no esforço das coisas repetidas
na miséria plácida que me urge
aguardo que venha outra vida
onde eu consiga largar essa coisa de cigarro.

(em 2 de Outubro de 2005)

Monday, May 12, 2008

[SEM RECEITA]

Você saiu de casa bravo. Meu arroz passado do ponto ficou na mesa soltando uma fumaça saudável que cheira a alho e me descongestiona. Fiz seu almoço com tanto carinho e indecisão. Penso em mil coisas enquanto cozinho. Fatias finas me remetem a outros amores. Caroços de vegetais me lembram algumas de suas manias idiossincráticas.

A gente erra quando pensa que a vida é algo grandioso, que pode trazer alegria e calor plenos ao coração. Não sei porque nasci preparada para certas fatalidades. Desesperar não é coisa do meu signo. Praguejar não é do meu feitio. Fico remoendo coisas que só fazem mal a mim para que nada no mundo seja afetado em seu curso. Tudo passa - e se passar do ponto ainda se traga.



nota ao leitor: este acima, como alguns abaixo e ao lado (e outros que aqui não constam) compõe o conteúdo de "Anomalias de alma e devaneios sem corda", a ser publicado em breve.