Wednesday, June 18, 2008

O “eu te amo” foi inventado para se guardar com zelo, como se guardam segredos que seriam dolorosos de revelar. Foi criado para descrever o indescritível, para preencher momentos não-raros nos quais se vive sem ponderar: fazendo o café ou a cama, calçando sapatos de inverno, abrindo a porta, penteando os cabelos.

Faz tempo que ele faz os amantes desistirem de argumentos que alongariam a discussão. Faz tempo que, dependendo de hora, lugar e interlocutor, ele pode ser traumático e indigerível – ou – inesquecível e impossível de conceber. Há coisas que tem a sua forma e semelhança. Olhares singelos. Beijos sinceros. Cafunés com a ponta dos dedos.

Pouca coisa, porém, pode ir mais fundo que ele. E pouca gente consegue tomá-lo com o devido cuidado e fazer dele algo em que se apoiar. Um coração cujo dono anda em outro corpo, entretanto, é caso perdido, desde que o mundo o é.